ANÁLISE DOS PROCESSOS EDUCATIVOS DOS TRABALHADORES DE SAÚDE EM UNIDADE BÁSICA COM MODELO MISTO PSF, PACS E UBS TRADICIONAL, MUNICÍPIO DE SÃO PAULO

IX Mostra de Trabalhos de Conclusão de Curso da EEUSP
TCC - Escola de Enfermagem-USP
Aluna: Carina Pinto Braga
Profª Marina Peduzzi
Área de concentração: Administração em Enfermagem

Introdução
O objeto da presente pesquisa refere-se aos processos educativos de trabalhadores de saúde pautando-se no reconhecimento dos recursos humanos, como elemento crítico para o SUS, considerando a educação permanente em saúde e o trabalho em equipe como instrumentos nucleares para a gerência, voltados a assegurar a qualidade da atenção integral à saúde. Assim, faz uma distinção entre os conceitos de educação permanente em saúde (Haddad, Roschke, Davini, 1994; Ceccim, Feuerwerker, 2004) e educação continuada (Peres, Leite, Gonçalves, 2005). Neste sentido, a educação permanente em saúde apresenta um caráter participativo, multiprofissional e organiza-se em torno da problematização do cotidiano do trabalho. Por outro lado, a educação continuada caracteriza-se pela realização de treinamento, reciclagem e cursos voltados à necessidade de aquisição e /ou aprimoramento de saberes técnico-científicos, orientados para especificidades das distintasáreas profissionais. Diferenças marcantes entre ambos os conceitos são observadas, sobretudo a potencialidade de transformações das práticas
de saúde expressas pela educação permanente em saúde.

Objetivo
Identificar, analisar e classificar o perfil dos trabalhadores de saúde, das equipes e dos processos educativos de trabalhadores de saúde em unidade básica de saúde na região da Coordenadoria de Saúde da Subprefeiturado Butantã.

Metodologia
O estudo apresenta caráter de natureza quantitativa e qualitativa, sendo do tipo descritivo e exploratório. Foi realizado em uma Unidade Básica de Saúde (UBS) em que se mantém a UBS tradicional onde foram implantadas três equipes de Programa de Saúde da Família (PSF) e
duas de Programa de Agentes Comunitários de Saúde (PACS).

A coleta de dados sobre os trabalhadores de saúde da UBS foi realizada por intermédio de fonte secundária e fonte primária. A coleta sobre os processos educativos foi realizada por meio de entrevista. Os sujeitos de pesquisa entrevistados foram selecionados com base no critério de
informante-chave, segundo a área profissional, garantindo um representante para cada categoria profissional e inserção no trabalho gerencial. Portanto, foram entrevistados 15 profissionais: técnico-administrativo, enfermeiro, auxiliar de enfermagem, um médico PSF e dois de UBS, cirurgião dentista, auxiliar de consultório dentário, agentes comunitários de saúde de PSF e PACS, assistente social, psicólogo, fisioterapeuta, fonoaudiólogo e educador em saúde
pública. Dois questionários foram usados, um para levantamento de dados para caracterizar os trabalhadores e as equipes de saúde e o outro para levantamento dos processos educativos dos trabalhadores de saúde. A coleta de dados contemplou o período de um ano (julho de 2004 a
junho de 2005). O primeiro questionário contempla as variáveis: sexo, idade, categoria profissional, especialização, tempo no serviço, tipo de vínculo e equipe a que pertence. O segundo, as variáveis: nome ou título do processo educativo; tema(s) abordado(s); público-alvo (a quem se destina); estratégia(s) de ensino; duração (data ou período de execução da atividade); local de desenvolvimento da atividade e de quem partiu a demanda do processo.
Os dados foram armazenados em banco de dados Excel 2002 versão 7, do qual foram extraídas tabelas que permitiram uma categorização e classificação do material. A análise qualitativa foi realizada fundamentada no quadro teórico adotado na pesquisa, especialmente, os conceitos de trabalho em equipe, integralidade, educaçãopermanente em saúde e educação continuada.

Resultados e Discussões

Caracterização dos trabalhadores de saúde

Na UBS do estudo, existem 73 trabalhadores com predomínio de agentes comunitários de saúde (ACS) 29 (39,7%), 15 (20,5%) auxiliares de enfermagem, 10 (13,7%) médicos e 4(5,5%) enfermeiros. O conjunto de profissionais constitui-se de três equipes de saúde de PSF com 26
(35,65%) trabalhadores, duas de PACS com 13 (17,8%) trabalhadorese 34 (46,6%) trabalhadores de UBS tradicional. Estes não estão inseridos em nenhuma equipe, estando os profissionais distribuídos no serviço como um todo. A seguir, a Figura 1 mostra como os profissionais na unidade estudada são distribuídos.

Caracterização do perfil das equipes

Observa-se uma proporção de onze trabalhadores "assistenciais"para um trabalhador do "apoio administrativo", o que embora pareça discrepante é justificado pela finalidade dos serviços de saúde, que é a qualidade da saúde.

O Quadro 1 mostra como se relacionam as categorias profissionais, chamando atenção o predomínio de trabalhadores de perfil biomédico, cujo núcleo duro de formação e prática é constituído pelo raciocínio clínico (médicos, enfermeiros, fisioterapeutas, fonoaudiólogas e dentistas).

Caracterização dos processos educativos dos trabalhadores de saúde

Ocorreram cinqüenta e um processos educativos e os resultados foram apresentados, conforme as variáveis estudadas. A Tabela 1 mostra os processos educativos classificados com base no conceito de integralidade e nas categorias empíricas reconhecidas na pesquisa de campo. A maioria de atividades educativas é de promoção, prevenção e recuperação, totalizando 32 (62,75%) processos educativos.

Quanto ao público-alvo, predominam as atividades voltadas aos ACS com 11 (21,6%), seguidas
daquelas orientadas à comunidade 7 (13,7%), para os trabalhadores de enfermagem 5 (9,8%) e a
todos os trabalhadores do serviço 4 (7,9%).

Predominam as atividades de curta duração (intervalo 4-20h) com 31 (61%) processos educativos e realizadas em local externo ao serviço com 43 (84%) atividades.

Quanto à estratégia de ensino, prevalecem as palestras com 9 (17,6%) seguidas de aula expositiva com 8 (15,7%) processos educativos.

A maioria das atividades foi demanda da Coordenadoria de Saúde e Secretaria Municipal de Saúde, observando-se, respectivamente, 21 (41,2%) e 13 (25,5%) atividades com essas origens.

Considerações Finais
Quanto à caracterização dos trabalhadores de saúde da UBS estudada, destaca-se que a maioria é constituída por trabalhadores de escolaridade básica, como os agentes comunitários de saúde e os auxiliares de enfermagem, bem como a proporção de 11 trabalhadores da área "assistencial" para um do "apoio administrativo" e a proporção de 6:1 entre os profissionais de perfil biomédico e perfil psicossocial. Este perfil no que se refere ao predomínio de profissionais assistenciais pode ser justificado pelas peculiaridades do campo da saúde, assistência como atividadefim, complexidade dos objetos e múltiplas dimensões: biológica, social, epidemiológica e comunicacional.

Mas, quanto ao predomínio de profissionais biomédicos, mostra a necessidade de integração dos campos bio-médicos e psicossocial, tendo em vista o princípio de integralidade de saúde, bem como a necessidade de mudança e transformação desse perfil.

A maioria dos processos educativos indica aspectos relacionados ao conceito de educação continuada, pois observa-se que as atividades são de curta duração, realizadas com base nas demandas externas e com o uso de estratégias de ensino centradas em palestras e aulas expositivas. Portanto, os trabalhadores estão inseridos em atividades feitas distantes do próprio
cotidiano de trabalho e com pouca participação ativa deles.

Assim, a educação permanente em saúde como a integralidade da saúde tornam-se desafios importantes para trabalhadores e gestores no cotidiano do trabalho.

Referências
Ceccim RB, Feuerwerker LCM. O quadrilátero da formação para a área da saúde: ensino, gestão, atenção e controle social. Physis.
2004;14(1): 41-65.
Haddad J, Roschke MAC, Davini MC. Education permanente de personal de salud. Washington: Organização Pan-Americana da
Saúde; 1994. (Série Desarrollo de Recursos Humanos em Salud, 1000).
Peres HHC, Leite MMJ, Gonçalves VLM. Educação continuada: recrutamento e seleção, treinamento e desenvolvimento e
avaliação de desempenho profissional. In: Kurcgant P, coordenadora. Gerenciamento em enfermagem. Rio de Janeiro: Guanabara
Koogan; 2005. p. 138-56.